sexta-feira, fevereiro 26, 2010

5 meses de DC: balanço

Muitas coisas boas e muitas coisas más.

Mas comecemos pelo princípio.

Tinha-me dito, no início, que queria a minha ajuda para, não só ajudar na gestão da empresa, como tomar conta do departamento financeiro da empresa. Portanto, queria que eu ajudasse a recuperar a empresa.

Ofereceu-me um contrato de tempo indeterminado com 9 meses de período experimental (os 9 meses eram justificados por ser um cargo de responsabilidade). Na última semana de Setembro comecei a trabalhar e nessa mesma semana assinei o contrato. Agora só faltava a outra parte assinar. Passou-se 1 semana, 2 semanas, 3 semanas... até que perguntei pela devolução do contrato assinado pela outra parte. A outra parte estava indecisa em assinar por causa de uma cláusula que ele achava que lá devia ter por causa das férias a que teria direito. Dizia que tinha que ficar lá explicito que pelos 3 meses que trabalhava em 2009 só teria direito a 6 dias de férias a mais em 2010. Ou isso ou fazíamos uma declaração adicional a dizer que eu só teria direito a mais 6 dias de férias. Eu disse que por mim estava tudo bem e podíamos fazer como ele quisesse.
Passou-se mais 1 semana, 2 semanas... e contrato nem vê-lo. Entretanto toda a gente recebeu os salários excepto eu. Fui questioná-lo passado mais 1 semana relativamente ao contrato e ao salário. Inventou mil e uma desculpas que eram rapidamente refutadas por mim. Mas como eu estava ali para ajudar e não para criar conflitos disse-lhe que, em vez de ficar oficialmente como trabalhador da empresa, passava recibos verdes. Aceitou de imediato.
Quase 2 meses depois de ter começado lá a trabalhar esse problema ficou finalmente resolvido. Recebi o meu primeiro salário na 3ª semana de Novembro.

Nesses primeiros tempos de trabalho fui-me apercebendo que o que ele me tinha dito no início não era verdade.
Primeiro fui-me apercebendo que o que ele me tinha mostrado inicialmente era completamente diferente da realidade. A empresa estava num buraco ainda mais fundo do que parecia (ou me fizera parecer).
Depois, ele não me queria para ajudar a empresa mas sim para o ajudar a ele. Todas as minhas ideias para a empresa eram más, para ele, a não ser que de alguma ele saísse altamente beneficiado. Infelizmente para ele, não houve nenhuma, uma vez que estávamos numa altura de fazer sacrifícios e não o contrário.
Desde aí, vi que havia apenas duas hipóteses: ou saía da empresa, ou então continuava mas o meu trabalho ia ser apenas as sobras, uma vez que participar na gestão da empresa estava claramente fora de hipótese.
Optei pela segunda hipótese.
Parece estúpido certo?
Uma pessoa como eu, com a formação pessoal e académica que tenho, continuar numa empresa em que os atentados contra os direitos profissionais, e até se calhar direitos humanos, eram mais que muitos, em que os abusos de poder eram prática frequente, e ainda por cima ficar a fazer algo que tinha muito pouco ou mesmo nada a ver com o que estava acordado inicialmente e não fazer quase nada daquilo para o que eu estou mais apto...
Exacto, é mesmo muito estúpido.
Resultado: alguns dos meus colegas, actualmente, duvidam seriamente das minhas capacidades. É um dos preços a pagar.

No entanto, na altura, deparei-me com um grupo de colegas bastante agradável e muito interessante. Havia naquele grupo de 11 pessoas muita qualidade humana e profissional. Reinava um clima muito, muito positivo, com pessoas cheias de vontade de trabalhar e dar a volta à má situação que se vivia. Havia verdadeira união.
Prometi a mim mesmo que ia fazer tudo o que estava ao meu alcance para tentar recuperar a empresa ou na pior das hipóteses, caso a empresa falisse, toda a gente conseguisse sair com tudo aquilo a que tinha direito. Eles mereciam.

Se não se fizesse algo de importante rapidamente para se tentar mudar, a recuperação iria ser difícil. O tempo era o maior inimigo.
Todas as minhas tentativas para essa mudança ocorrer saíram fracassadas no tempo oportuno e as hipóteses neste momento são praticamente nulas.

Efectivamente, neste momento, apenas há uma hipótese muito remota de se poder recuperar a empresa. No entanto, se isso acontecer, não dependerá do meu esforço.
A união do grupo que eu pensava que existia afinal não era real.
Recentemente comecei-me a aperceber que há pessoas que estão mais preocupadas em arranjar conflitos e fazer intrigas do que verdadeiramente ajudar a empresa a recuperar e, assim, ajudar a que fosse possível toda a gente continuar a trabalhar, e a trabalhar junta.
Para além disso, a confiança que eu pensei que existia em mim afinal não é partilhada por toda a gente. Fui sempre aberto com toda a gente. As pessoas queriam saber o se passava verdadeiramente e eu sempre fui o mais transparente possível. Estão ali pessoas verdadeiras, de carne e osso, que têm que ganhar para viverem e precisavam de saber o que lhes podia esperar o futuro. Tenho consciência que fiz tudo o que podia para ajudar. Mas parece que nem toda a gente acredita nisso.

Para mim acabou. Eles se quiserem alguma coisa que se esforcem porque eu não tomo mais a iniciativa.
Se nada acontecer de muito grave entretanto, vou continuar lá até a empresa fechar e apenas por 3 motivos: continuar a ajudar as pessoas que realmente merecem (e até algumas que talvez não mereçam); cultivar relações profissionais e relações de amizade; e aprender, aprender o máximo que puder. Provavelmente irei ter que aprender sozinho, mas não é nada a que nestes últimos meses não esteja habituado.

Desta experiência ficam muitas situações desagradáveis vividas, momentos de grande tensão, mas por outro lado bastantes momentos de excelente convívio. Ficarão certamente relações de trabalho que poderão ser úteis no futuro e fica uma amiga, provavelmente, para a vida.

Se eu podia ter sido mais feliz se pudesse apagar estes últimos 5 meses? Podia... mas não era a mesma coisa...

3 comentários:

Gisela disse...

Amor,
sei que a tua transparência, honestidade e dedicação ao trabalho irá ser recompensada.
Portanto sê persistente e não desanimes.
Estou aqui para te ajudar a concretizar tudo aquilo para que foste feito. Amo-te.

"Ser um empreendedor é :

Executar os sonhos, mesmo que haja riscos.
É enfrentar os problemas, mesmo não tendo forças.
É caminhar por lugares desconhecidos, mesmo sem bússola.
É tomar atitudes que ninguém tomou.
É ter consciência de que quem vence sem obstáculos triunfa sem glória.
É não esperar uma herança, mas construir uma história...

Quantos projectos você deixou para trás?
Quantas vezes os seus tremores bloquearam os seus sonhos?
Ser um empreendedor não é esperar a felicidade acontecer, mas conquistá-la".

Colega de trabalho disse...

Na vida nem tudo o k parece é e neste momento é necessária a ajuda e a união de tds. C tanta incerteza k s tem vivido, é +- natural k algumas pessoas fiquem confusas e mts vezes comecem a desconfiar de td e tds. O ambiente vivido nos últimos meses é propício a este tipo de coisas. C td isto, quem s vai ficar a rir, mais uma vez, vai ser o suspeito do costume...

Amigo disse...

A vida nem sempre parece recompensar quem realmente merece ser recompensado, porém "um simples bater de asas de uma borboleta na Amazonia pode criar um furacão no Texas". O que tens feito é muito mais que um simples bater de asas e certamente que o furacão que irás desencadear mais tarde irá recompensar-te mais do que aquilo que actualmente mereces! Já és reconhecido por muitos pelas qualidades que tens, se fores persistente e continuares a enfrentar os teus desafios com a coragem que tens tido.. irás ser reconhecido por todos! Um grande abraço ;)